quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Toque feminino

Quando alguém pensa numa indústria metalmecânica, imagina logo um grupo de marmanjos trabalhando em seus macacões. Mas essa não é a realidade da Mec-Tronic, fábrica de componentes eletrônicos, como plugues, tomadas e interruptores de luz, instalada em São Lourenço da Mata, Região Metropolitana do Recife. Dos 560 funcionários, 400 são mulheres (71,43%). Elas atuam na montagem dos componentes, embalagem, expedição e na parte administrativa. O toque feminino, no fim das contas, está deixando a indústria pesada um pouco mais leve.

A Mec-Tronic iniciou suas atividades em 1993, na capital do estado de São Paulo. Dez anos depois, o parque fabril foi transferido para Pernambuco, permanecendo lá apenas a unidade logística. Mão de obra mais barata? Talvez. Estima-se que o custo da hora trabalhada em São Paulo esteja em R$ 8,90, contra R$ 3,50 da maioria dos estados nordestinos. E as mulheres, por que tantas? A justificativa é simples. Elas são mais detalhistas, mais cuidadosas. Lidam melhor com a montagem de componentes tão pequenos quanto os eletrônicos.

Francisca Souza de Oliveira, 38, trabalha na Mec-Tronic há 17 anos. Cearense de Icó, veio de São Paulo para São Lourenço quando a fábrica foi transferida. Ela acredita que, quanto mais a empresa cresce, mais oportunidades são criadas para mulheres. "Acho que esse serviço foi feito para as mulheres, o desempenho é sempre bom", diz a supervisora de montagem, grávida de dois meses. "O fato de estar grávida não impede ninguém de trabalhar", ensina. Cerca de 40% dos funcionários do setor produtivo são mulheres.

Historicamente, as trabalhadoras apresentam rendimento médio mensal inferior ao dos homens ainda que exerçam a mesma função. Muitos empresários preferem nem ter funcionários do sexo feminino, pois acham que terão prejuízo e mais encargos durante e depois da gravidez. Ledo engano. "Gravidez não é doença. Para o tipo de trabalho que temos, a mão de obra feminina é a ideal", afirma o diretor da Mec-Tronic, Wadi Nicola Mansur.

Segundo ele, são oito gestantes, em média, por mês. Todas recebem leite até o sexto mês após o parto para ajudar na alimentação do bebê. Para a ajudante de montagem Lindinalva Batista, 27 anos, no sétimo mês de gestação, é muito gratificante trabalhar numa empresa que apoia a gestante. "Além disso, como a maioria é mulher, a convivência fica muito mais fácil", depõe a gestante, que é natural de São Lourenço. Para atender a essas "clientes", como Francisca e Lindinalva, Mansur estuda construir uma escola e uma creche dentro do parque fabril.

"Atualmente elas utilizam a creche do município, mas seria muito bom se pudessem deixar seus filhos num local mais próximo do trabalho", planeja o diretor. Minoria, os homens reconhecem a importância do trabalho feminino. "Na linha de montagem, elas são mais sensíveis, mais capazes de visualizar defeitos. São perfeccionistas, por isso são mais indicadas para esse tipo de trabalho", atesta o gerente de produção Robson Campos de Santana.

No setor de embalagem, elas reinam. São apenas dois homens. "É bom porque todo mundo coopera, as mulheres são mais solidárias", comenta a auxiliar de embalagem Cláudia Ribeiro de Melo, 24 anos. Há apenas seis meses na fábrica, ela observa que as mulheres estão invadindo cada vez mais redutos antes tidos como "masculinos". "A mulher, quando capacitada, pode ocupar qualquer cargo".

A mulher e o mercado de trabalho
Fonte: Diario de Pernambuco

Nenhum comentário:

Postar um comentário